quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Conto: Arembepe

 


AREMBEPE


Ela deixou suas pegadas na areia escura da praia deserta. Abraçada pela brisa do mar, que salpicava sua pele com a maresia, sentiu uma enorme liberdade borbulhar em seu coração. Desconectada, tinha apenas o céu azul, imenso e rabiscado por algumas poucas nuvens, como tela para contemplar. Nenhum recado de whatsapp ou email para responder, apenas a areia da praia, o mar, o céu, os coqueiros, a companhia da amiga. Pancetti se encantaria com a vivacidade das cores e retrataria de forma magistral em uma de suas telas, pensou.

A cabeça ainda girava com ideias para projetos e iniciativas, mas apaziguava estas inquietações, deixando o sol lhe acariciar a pele e espantar a tez cor de escritório paulistano. Não havia ninguém ao redor. Tudo deserto a perder de vista. Caminhou pela praia sem rumo, sem medir os passos, sem contar calorias ou ritmo, apenas caminhou e deixou que as ondas beijassem seus pés. A água morna massageava aqueles pés cansados. Ah, como era bom andar descalça, sem compromisso, sem horário, sem metas ou horários a cumprir!, pensou e deixou-se inundar pela calma e tranquilidade do lugar.

Os óculos de sol filtravam a luz que se projetava nos olhos âmbar. O azul ficava mais vivo por detrás das lentes. O verde estava mais intenso e a claridade era domada. Deitou-se sobre a canga e apenas deixou o tempo passar. Fechou os olhos, tirou os óculos e respirou profundamente. A alegria tomava-lhe o corpo e atiçava a alma. Se tivesse encomendado um dia para iniciar as férias, não teria pensado em algo tão perfeito e belo. A vida tem destas surpresas e agradeceu por estar ali, viva e contemplando toda aquela beleza. Talvez o que lhe faltava era exatamente a coragem para fugir do agito e mergulhar no silêncio de Arembepe.