AREMBEPE
Ela deixou suas pegadas na areia escura da praia deserta.
Abraçada pela brisa do mar, que salpicava sua pele com a maresia, sentiu uma
enorme liberdade borbulhar em seu coração. Desconectada, tinha apenas o céu
azul, imenso e rabiscado por algumas poucas nuvens, como tela para contemplar.
Nenhum recado de whatsapp ou email para responder, apenas a areia da praia, o
mar, o céu, os coqueiros, a companhia da amiga. Pancetti se encantaria com a
vivacidade das cores e retrataria de forma magistral em uma de suas telas,
pensou.
A cabeça ainda girava com ideias para projetos e
iniciativas, mas apaziguava estas inquietações, deixando o sol lhe acariciar a
pele e espantar a tez cor de escritório paulistano. Não havia ninguém ao redor.
Tudo deserto a perder de vista. Caminhou pela praia sem rumo, sem medir os
passos, sem contar calorias ou ritmo, apenas caminhou e deixou que as ondas
beijassem seus pés. A água morna massageava aqueles pés cansados. Ah, como era
bom andar descalça, sem compromisso, sem horário, sem metas ou horários a
cumprir!, pensou e deixou-se inundar pela calma e tranquilidade do lugar.
Os óculos de sol filtravam a luz que se projetava nos olhos
âmbar. O azul ficava mais vivo por detrás das lentes. O verde estava mais
intenso e a claridade era domada. Deitou-se sobre a canga e apenas deixou o
tempo passar. Fechou os olhos, tirou os óculos e respirou profundamente. A
alegria tomava-lhe o corpo e atiçava a alma. Se tivesse encomendado um dia para
iniciar as férias, não teria pensado em algo tão perfeito e belo. A vida tem
destas surpresas e agradeceu por estar ali, viva e contemplando toda aquela
beleza. Talvez o que lhe faltava era exatamente a coragem para fugir do agito e mergulhar no silêncio de Arembepe.
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