A Páscoa, para os católicos, é a celebração da ressurreição
de Cristo, o triunfo da Vida sobre a Morte, um momento de renovação, um
avivamento da esperança e da fé. A ressurreição de Cristo é ponto central da fé
cristã, pois se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé (Primeira Carta de São
Paulo aos Coríntios, v. 15).
A Páscoa, neste ano, caiu no meio de um período de
quarentena e isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus. As
celebrações foram remotas, feitas por transmissões online, as famílias se
confraternizaram por vídeo conferência ou simples telefonemas e, apesar do
lindo dia de sol em São Paulo, havia um ar de apreensão persistente no ar. Até
quando vamos precisar levar adiante esta quarentena? Até quando não vamos poder
trabalhar?
Tenho cá com meus botões que a imagem do Papa Francisco
rezando sozinho na Praça de São Pedro, durante a quaresma num dia chuvoso e
frio em Roma, ficará marcada por anos como a imagem que melhor refletirá esta
pandemia: o isolamento, a solidão, a tristeza, a dor.
Este período de isolamento impõe-nos o exercício – ou o
crescimento – de duas virtudes essenciais para a manutenção de um espírito de
alegria e bom humor: a humildade e a esperança. Duas virtudes – ou qualidades,
se assim preferir – que são armas efetivas contra a tristeza que pode nos
invadir nestes momentos.
A humildade, que para muitos é uma qualidade mal vista ou
tida como algo prejudicial, é o reconhecimento de que nossas qualidades e dons
e talentos não são decorrentes de mérito próprio, mas nos são dados, presentes
divinos que devemos dar bom destino. A humildade é o reconhecimento de nossas
fraquezas, de nossos defeitos, da nossa realidade nua e crua. Este reconhecimento
nos conduz – ou deveria nos conduzir – a um estado de agradecimento constante
pelo que temos, pelo que nos é dado, pelo simples fato de estarmos vivos. A
vida é um presente e cada minuto vivido é uma dádiva.
Em tempos de Covid-19, basta olharmos ao nosso redor para
percebermos motivos para sermos gratos. Se temos uma casa para morar, comida na
mesa, uma cama para dormir, isto já nos coloca numa minoria da população
mundial. Se tivermos a consciência de que isto não é resultado de mérito
próprio, mas que nossa condição é um presente, seremos menos arrogantes e muito
mais abertos ao outro, à prática de atos concretos de solidariedade. Doar
alimentos, permitir que um funcionário fique em casa para evitar deslocamentos sem
prejuízo do pagamento dos
salários, contribuir com causas que sejam confiáveis, estender a mão para um
amigo que necessita de uma palavra ou de um ouvido atento – ainda que à
distância. Tudo isto é consequência de uma consciência clara de nossa realidade
que só a humildade pode nos revelar. Quando nos damos conta de nossa pequenez,
olhamos para o outro com empatia e isso nos move a ajudar e agir.
A outra virtude é a esperança. Esperar é confiar de que isto
passará, de que as coisas terrenas são transitórias. Para quem acredita em Deus, é a certeza de que todas as
coisas concorrem para o bem daquele que acredita em Deus. Não se trata de ser
passivo, mas de agir com a confiança de que nosso esforço terá um resultado positivo.
Isto pode significar passar por períodos difíceis, doloridos, até momentos em
que parece não haver luz no fim do túnel. Tudo serve para um crescimento
pessoal, uma nova forma de compreender a realidade e de dar valor para aquilo
que temos no presente.
Ter esperança ajuda-nos a manter a moral elevada, o bom
humor diante das dificuldades, abraçar o sacrifício do isolamento social com a
alegria de saber que estamos contribuindo para a preservação de vidas – e
talvez da nossa própria vida. A esperança é um elemento essencial para manter a
sanidade, o equilíbrio, para dar propósito a esta fase de nossas vidas.
É possível ignorar tudo isto que escrevi acima, mas reflita
um pouco e perceberá que este tempo de provação tem um sentido – um sentido
diferente para cada um de nós –, um convite para o crescimento pessoal. Por que
não aproveitar esta oportunidade? Por que não praticar um gesto concreto de
solidariedade?