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Voltando de férias no Uruguai, dei-me conta que minhas avós sobreviveram aos meus avôs. Um morreu em 1977 e o outro em 1990, no dia 15 de março, dia da posse de Fernando Collor. Boa parte da minha pós adolescência foi de convívio com as matriarcas da família. Percebo que a história se repete e meus filhos deparam-se com semelhante realidade. O convívio com os avôs foi breve, mas deixou suas boas memórias. Agora aproveitam o tempo com as avós, um pouco debilitadas na locomoção, mas lúcidas, sozinhas e independentes.
Quantas mulheres não sobrevivem aos seus maridos? Ouso dizer que a maioria e se adaptam bem a uma nova realidade, uma nova fase de aprendizado e de superação do medo. De repente, tem que administrar as finanças da casa, lidar com trâmites burocráticos e jurídicos. Não estou aqui a dizer que estas tarefas são "coisa do homem da casa", mas ainda são costumeiramente realizadas pelos maridos. Navegar pelo internet banking pode ser um tormento, mas elas aprendem rápido, são curiosas e descobrem um mundo diferente.
Minha mãe está aprendendo a viver só e a lidar com um mundo tecnológico onde operações bancárias são feitas todas por aplicativos, a pedir ajuda aos filhos e reconhecer que este pedido de ajuda não indica fraqueza ou debilidade, mas é antes de tudo um exercício de humildade. Para os filhos, é uma realidade onde deixamos de ser cuidados e passamos a cuidar. Esta realidade chega de repente e só percebemos isto ao acompanhar o pai ou mãe num leito de hospital.
Quando se percebe, o tempo passou e não corremos para o colo seguro do pai e da mãe, agora somos nós os responsáveis por carregá-los, apoiá-los, ajudá-los. De adultos fortes, a fragilidade toma conta dos pais e descortina o inevitável ciclo da vida. O tempo é cruel e não espera. Se demorarmos a perceber esta mudança de fase da vida, o tempo acaba. Não é possível fazer uma pausa ou estancar o caminhar constante do tempo. O importante é ter a consciência dessa realidade e sorver o tempo, não deixando que uma oportunidade sequer passe sem que possamos dizer um "sim" a quem nos pede ajuda, ou apenas um pouco de tempo e atenção.