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PERFEITO
Me disse nos meus braços você parece
um menino eu disse nos seus braços
eu sou um menino eu podia ter dito
trago pela mão um girassol um livro
um violino eu devia ter dito eu não disse
sou um verso que teci com seus cabelos
sou o peixe vermelho no aquário
de Matisse eu diria ainda mas
deixei que só a respiração dissesse
que eu era a presença longínqua da maresia
por entre os pinheiros de Curitiba
um menino sim um grão de mostarda
um sobrado em Braga branco e branco
eu despertava e Amsterdã sob a neve
parecia mais uma pequenina sílaba
à espera de uma sílaba que a tarde
trazia entre dentes miúdos; tudo
sob o laço prestes a desatar e cair
à maneira de um copo que se parte
mas por ora nada tinha peso nada
era grave e o tempo sem as horas
nunca soube dar de nós ali onde o mundo
permaneceria daquele modo suspenso
perfeito.
(Escuta, Eucanaã Ferraz, São Paulo : Companhia das Letras, 2015, p. 73)