Caminhava nas águas geladas do riacho sombreado, deixando
que os seixos massageassem seus pés. O calor intenso era interrompido quando
levava a mão até a água e jogava um pouco sobre o rosto e o corpo. Havia uma
sinfonia de pássaros, insetos, folhas e galhos a balançar com o vento quente do
verão que pouco refrescava. Aquele concerto da natureza, gratuito, mas tão
despercebido por muitos, era o que precisava para apaziguar a alma. Sempre que
podia, fugia para aquele recanto, afastado da civilização, onde o céu era de um
azul profundo, onde a terra era vibrante e o verde das árvores retorcidas tinha
se desbotado ao longo da estação.
Parou por um instante e olhou fixamente para fundo do
riacho. A água lhe acariciava os joelhos. As pegadas trilhadas pela água não
deixavam rastro. As pedras repousavam no leito do riacho, adormecidas por anos,
silenciosas, até que fossem despertadas por uma intrusa. Pensou em levar
algumas consigo, mas desistiu. A harmonia era tanta que temeu desequilibrar
tudo que a cercava. Fechou os olhos, respirou fundo e deixou-se ouvir o cantar
da natureza. Ergueu os olhos para o alto, um céu sem nuvens ou qualquer traço
de cor que não fosse matizes de azul, e agradeceu pela dor, pelas lágrimas, pela
alegria do momento, pela vida que ainda lhe restava.
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