terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Pegadas no riacho






Caminhava nas águas geladas do riacho sombreado, deixando que os seixos massageassem seus pés. O calor intenso era interrompido quando levava a mão até a água e jogava um pouco sobre o rosto e o corpo. Havia uma sinfonia de pássaros, insetos, folhas e galhos a balançar com o vento quente do verão que pouco refrescava. Aquele concerto da natureza, gratuito, mas tão despercebido por muitos, era o que precisava para apaziguar a alma. Sempre que podia, fugia para aquele recanto, afastado da civilização, onde o céu era de um azul profundo, onde a terra era vibrante e o verde das árvores retorcidas tinha se desbotado ao longo da estação.

Parou por um instante e olhou fixamente para fundo do riacho. A água lhe acariciava os joelhos. As pegadas trilhadas pela água não deixavam rastro. As pedras repousavam no leito do riacho, adormecidas por anos, silenciosas, até que fossem despertadas por uma intrusa. Pensou em levar algumas consigo, mas desistiu. A harmonia era tanta que temeu desequilibrar tudo que a cercava. Fechou os olhos, respirou fundo e deixou-se ouvir o cantar da natureza. Ergueu os olhos para o alto, um céu sem nuvens ou qualquer traço de cor que não fosse matizes de azul, e agradeceu pela dor, pelas lágrimas, pela alegria do momento, pela vida que ainda lhe restava.


Nenhum comentário: