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Não me tenhas como um fantasma do passado a assombrar teus
dias, tuas tardes preguiçosas, tuas madrugadas insones, tuas noites solitárias,
tuas manhãs de ressaca. Não sou eu a desfazer os espirais de fumaça que fluem
de seus cigarros, assoprando as belas esculturas que se desenham no ar. Sei que
está só e te observo de longe, em pensamentos e desejos, com a boca costurada
pela censura que me impusestes. Não me procures mais, chega! O grito escrito
num email saltou do fundo da garganta e me ensurdeceu. Calei-me como pediste
por quase dois anos, mas uma serena vontade me consome e sou tomado pela
impotência de não resistir. Quero te escrever, mas temo que seja tido como um
fantasma, daqueles esqueletos do fundo do armário, esquecidos e que quando
revelados assombram, causam taquicardia, suores, um forte aperto no coração.
Não quero ser um pesadelo, não quero tirar teu sono, nem tua
paz - se é que em algum momento nos últimos tumultuados meses atingistes a paz
de espírito. Do jeito que te conheço, ouso dizer, sem medo de errar, que teu
interior inquieto e ansioso, extremamente analítico jamais lhe concedeu a paz
interior.
O mundo é muito turbulento para ti. O mundo está em
constante mutação, tanto o material como o espiritual e tentas captar tudo, usas
do conhecimento para tentar atingir o impossível controle sobre o destino,
sobre a razão e o mais utópico: sobre o coração e os sentimentos. Suas
tentativas de negar e rejeitar o sentimento despertado, por mim confessado, foram
em vão. Negaste de forma reiterada, acreditando que o silêncio me induziria ao
erro. A negação se transformou em agressão verbal e escondida por detrás de um
colete à prova de flechadas do cupido. Fingiu que estava intacta ao que fora
despertado no seu âmago. Jamais acusaste o golpe e sei que és orgulhosa por
demasia para reconhecer que se apaixonara por alguém que lhe faria fugir e
correr e correr. A contradição posta lhe embaralhou o raciocínio e a filosofia
foi escassa, insuficiente, não lhe dando os instrumentos para dissecar a sua
própria alma e tomar de conselho a lição primordial: conhece-te a ti
mesmo!
Falhaste e me condenaste ao limbo das almas penadas, dos
fantasmas do passado. Deixei de ser um sonho bom para me tornar um pesadelo dos
mais traumáticos e inquietantes. Não sou um fantasma e não quero morrer como
fantasma. Será que em algum momento do futuro, à luz do dia, o espectro se
transformará de novo em um inofensivo amigo?
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