quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Tradução




TRADUÇÃO

 - Você me traduz tão bem!

- Eu te leio com atenção. Observo-te não com os olhos, mas com as palavras que brotam da tua alma. Ultrapasso a superfície para mergulhar na tua imensidão interior. 

- Mas esta tradução que desfias, não sou eu. Pões poesia no banal, no simples. Não sou poética, nem lírica. Não extraio do prosaico cotidiano o mel das palavras, o sumo das frutas doces que enchem a boca e explodem no coração, da claridade do sol que aquece a pele e transporta a alma para lugares divinos.

- É você, sim. Talvez não tenhas percebido ou se dado conta. Eu te apresento a você mesma. Tento preencher vazios e rejeito tua apressada autocensura de rasa. Descobrimos o profundo no silêncio do cotidiano, nas viagens por estradas solitárias, olhar posto no infinito distante e inatingível, donde tocamos a sensação de eternidade, de transcendência.


- Escrevo em prosa e tu me traduz em versos. 


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Nota: hoje faleceu Manoel de Barros, grande poeta brasileiro, tradutor do simples, do banal, do bucólico, do lúdico. Este breve texto é dedicado a ele em singela homenagem.

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