terça-feira, 12 de novembro de 2013

Conto: Pergunte ao poeta


A brisa refrescava a orla de Copacabana um pouco mais do que o usual a ponto dela vestir um casaquinho. Estava alegre, animada com as conversas, ainda que duas taças de vinho tivessem contribuído para um certo estupor. Amigas ao redor, falavam, riam, gargalhavam, saltitavam como se fossem menininhas adolescentes. A jovialidade era notória, algo que transparecia de seu belo rosto, e o clima de camaradagem contribuía para enfeitar a noite estrelada e as luzes a pontilhar a Av. Atlântica.

Ao chegar ao Posto 6, um pequeno aglomerado de turistas alternava-se ao lado da estátua de Drummond sentado placidamente, de pernas cruzadas, mãos sobre as pernas, qual bom mineiro paciente e atento a cada foto, a cada palavra, a cada larápio que surrupiava seus óculos, a cada ouvinte que lhe pedia um conselho, a cada iletrado que não o conhecia.

Ela não hesitou, não se envergonhou. Sentou-se ao lado de mestre itabirano e puxou um fio de prosa. Gesticulava, sorria, ouvia atentamente, quase hipnotizada pelo que parecia ser uma conversa real.

- E então, conte-me, o que o poeta lhe disse? - indagou a amiga em tom de galhofa após registrar o momento numa foto.

- Ouça o vento. Dance ao som das ondas do mar. Voe com as borboletas. Sinta a vibração da floresta, abrace as árvores, agarre a vida. Inspire o aroma da primavera, da maresia. Delicie-se com os sabores do amor, do beijo, do abraço. Olhe para o céu, para a lua, para as estrelas. Sonhe. Viva. Ame. Ria. Transgrida. Deixe-se levar pelo ímpeto, enfrente a correnteza, aventure-se. Ah, e tem mais uma coisa moça bonita: diga para sua amiga que poetas falam, mesmo depois de muito tempo, quer com palavras, quer sejam estátuas. Se você não acredita, pergunte ao poeta!

(5 de setembro de 2013)

Um comentário:

André Foltran disse...

Bom conto, amigo. Leve, gostoso de se ler.

Um abraço!