quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Um trecho de Murakami

A foto é do blog Fifties.


"Ela interrompe a leitura e volta-se para a janela, que, do segundo andar, permite observar o movimento lá embaixo. Apesar do horário, as ruas ainda estão bem iluminadas e é grande o número de pessoas que vêm e vão. Pessoas que têm para onde ir e as que não têm. Pessoas que têm objetivos e as que não têm. Pessoas que tentam parar o tempo e as que querem acelerá-lo. Ela observa por algum tempo a cidade sem nexo e procura concentrar-se em respirar com serenidade, para depois voltar novamente às páginas do livro."
(Haruki Murakami. Após o Anoitecer.  Tradução do japonês  Lica Hashimoto. Rio de Janeiro : Objetiva, 2009, p. 10)

Pessoas. Estamos cercados de pessoas. Cruzamos com dezenas, centenas ou milhares ao longo de um dia. No trânsito, no metrô, no ônibus ou caminhando pela rua. Rostos que sequer permitem o cruzamento de olhares. Pessoas que seguem suas vidas. Algumas com objetivos, outras sem qualquer rumo. A janela é uma perfeita metáfora para os olhos que inundam o interior com imagens, matéria-prima da produção de sentimentos. Olhos que, como a janela, são uma defesa do que guardamos no interior, que se fecham quando não se quer ver e que sabem esconder o que não queremos revelar.

Nenhum comentário: