Final de ano e a ladainha se repete. Uma infindável lista de
generosos e eficientes prestadores de serviço batem à sua porta com cartões
natalinos e pedidos de caixinha. Em qualquer padaria, cafeteria, lanchonete e
no comércio em geral, pequenas caixas vistosas proliferam nos balcões e ao lado
dos caixas. Os nomes podem variar. Alguns chamam de caixinha, livro de ouro,
lembrança de natal, bônus, presente...todos, não importa o rótulo que lhe seja
dado, são na verdade uma forma disfarçada de propina.
Sim, meus caros, não vou poupar nenhum deles com compaixão
ou condescendência. Digo de forma clara: eu não dou caixinha! Acho um absurdo,
um achaque, afinal você paga um valor adicional ao que você já pagou para que o
serviço seja prestado de forma adequada. É obrigação do funcionário prestar o
serviço para o empregador e prestá-lo bem! Se você deixar de pagar o
empregador, o funcionário pode perder o emprego e aí você fica livre da
caixinha.
A lógica é cruel, mas simples e verdadeira. Dar caixinha é
sinônimo de pagar duas vezes pelo mesmo serviço. Se você se revolta com as
operadoras de telefonia, com a banda larga que não entrega a velocidade
prometida, com o banco que cobra tarifas abusivas, você não deveria dar
caixinha.
Pensem um pouco: a caixinha é uma versão em escala micro do
caixa 2, da propina da Odebrecht, da Camargo Correa, da Braskem, da OAS...
Caixa 2 é toda aquela receita que a pessoa jurídica esconde para não pagar
imposto. O prestador de serviço que recebe a caixinha de natal também não vai
declarar ao fisco o recebimento, logo, haverá sonegação e você, meu amigo, pode
ser considerado cúmplice desta conduta.
Tudo bem, ninguém vai te pegar, mas você já pensou que as
duas condutas são análogas? Por que será que condenamos aqueles simpáticos
senhores que estão passando uma temporada num aprazível presídio nos arredores
de Curitiba e não condenamos o porteiro, o zelador, o manobrista, o entregador
de jornal – aliás, profissão em extinção -, o gari, o entregador de água e a
lista não acaba nunca.
Talvez eu esteja meio revoltado, talvez esteja me faltando
espírito natalino, mas se o momento é de mudança no Brasil, devemos fazer nossa
parte. E de minha parte, não dou caixinha para ninguém!
Sugiro que cada pessoa, ao invés de dar caixinha, doe o
valor para uma instituição de caridade, uma ONG, uma entidade beneficente, um
grupo na igreja. Há várias entidades que precisam de recursos para doar cestas
básicas e itens básicos para famílias carentes que realmente precisam. Estes verdadeiramente
precisam de uma caixinha de Natal!