terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada, de Fernando Pessoa




QUEM ME DERA QUE EU FOSSE O PÓ DA ESTRADA

Quem me dera que eu fosse o pós da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...

Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...

Antes isto que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena...

Fernando Pessoa

(Quando fui outro. Rio de Janeiro : Objetiva, 2006, p. 74)

Nenhum comentário: