Nada é mais paradoxal do que o fogo que arde sem se ver, não queima, mas causa dor. A dor não deveria existir onde há amor, mas ela vem sorrateira, inesperada, como um ladrão na calada da noite e rouba-nos o sono tranquilo, presenteando-nos com a insônia, a inquietação, a impotência.
A dor que rouba a voz, desorganiza as palavras, paralisa-nos diante do sonho que se desfaz. Só resta derramar as lágrimas que molham o travesseiro, lágrimas silenciosas, invisíveis, inaudíveis.
Os gritos não são ouvidos, as ideias dançam sem harmonia e não há argumento a restabelecer a racionalidade do erro, a rebobinar o relógio para o dia anterior, para a semana anterior, para antes daquele e-mail fatídico e fatal.
O balão estourou e a dor se instalou. O pêndulo oscilou da alegria incontrolável para a tristeza extrema. Como pode ser o amor tão cruel, tão paradoxal? Como pode a vida ter-lhe roubado sem dar a chance da despedida? Como pode a vida deixar a injustiça prevalecer quando o amor atraía a ambos, pintava sorrisos e iluminava os dias? Como?
Tão paradoxal o amor! Um dia alegra, faz suspirar, faz sonhar, inspira, rejuvenesce. Noutro dia açoita, maltrata, enxota, abandona, castiga.
Somente a nós compete solucionar o paradoxo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário