NA NOITE DE NATAL
Ele faltou naquele ano. E faltará em todos os anos seguintes. A ninguém é dado escolher a hora, o dia, a data, o ano, a forma. Há um momento exato em que acontece e este momento é irreversível.
Ele não veio à festa de Natal naquele ano. A casa parecia
vazia. Meu coração estava vazio. Era tudo muito recente e a morte não parecia
combinar com a comemoração de um nascimento. A alegria me pareceu falsa,
fabricada. As crianças corriam pela sala com seus brinquedos novos em meio a
papéis de embrulho rasgados, laços destruídos e fragmentos de fitas adesivas e
embalagens.
Olhei ao redor. Todos rindo, comendo, bebendo, tirando
fotos. A vovó sentada na poltrona no canto da sala, com o olhar distante e
perdido no infinito. Percebi uma lágrima a escorrer-lhe pelo rosto. Fui até
ela. Sentei ao seus pés e ela alisou meus cabelos, num cafuné amoroso e
demorado.
- Quando alguém se vai, ficamos tristes, mas há alegria no
céu com cada nova alma que nasce para a eternidade. O céu deve estar em festa e
ele está lá com os anjos, olhando por nós, cuidando de nós, zelando para que as
boas pessoas continuem ao nosso lado, intercedendo ao pequeno menino na
manjedoura para que afaste de nós o mal, as pessoas egoístas, as pessoas que
não querem o nosso bem. Dói não tê-lo
por perto, mas vamos mantê-lo vivo em nossos corações, vamos lembrar dele a
cada memória boa, a cada estória contada para os pequenos. Vamos encontrar a
alegria na dor passageira, na saudade que fica.
Abracei-a demoradamente, pois ela ainda está conosco. E suas
palavras, ainda que por um momento, apaziguaram meu coração.
Que o nascimento do menino Jesus traga alegria e esperança para nossos corações, cicatrize as feridas e abençoe nossas vidas neste Natal.
Feliz Natal a todos os amigos, leitores e àqueles que passam por aqui.
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