Fazia um bom tempo que não terminava um livro em pouco mais de uma semana, assim também há um bom tempo que não faço uma resenha para o blog de minhas leituras. Minhas últimas leituras recaíram sobre livros de não ficção (principalmente história do Brasil) e contos esparsos em revistas literárias e algumas coletâneas. Esta leitura variada não permite a unicidade da crítica. Mas o romance de estreia da alemã Bertina Henrichs, escrito em francês e com tradução de Bernardo Ajzenberg, obriga-me a trazer minhas impressões da obra.
A edição da Editora Record é de 2010 e o livro ganhou uma adaptação para o cinema estrelada por Sandrinne Bonnaire e Kevin Kline, com o título em português de O Xeque da Rainha.
O romance conta a estória de uma camareira de um hotel numa ilha grega. Eleni seguia sua rotina diária de trabalho e repara num casal de hóspedes franceses que jogavam xadrez no quarto. Interessa-se pelo jogo e mergulha no mundo fascinante do jogo dos reis, no universo das 64 casas que fascina grandes mentes ao redor do mundo.
A prosa é leve, ágil e a vida da ilha transcorre em traços mal acabados. Tem-se a impressão de Henrichs não gasta tempo em demasia com descrições inúteis e detalhes pouco úteis na composição das personagens e na construção do enredo. Assemelha-se a narrativa à um desenho cujos traços à lápis estão presentes, mas sem cor, sem acabamento, sem os retoques finais. Este estilo dá margem a certas dúvidas e incertezas, mas permite ao leitor preencher aparentes lacunas que surgem na estória.
O xadrez é o pano de fundo da estória, o fio condutor, mas não impede o leitor pouco familiarizado com o jogo de deixar de compreender, nem tampouco há descrições detalhadas do jogo que entediariam o leitor. Há algumas imprecisões (não sei se no original ou na tradução) que não passam despercebidas a um enxadrista, mas isto não tiro o brilho do livro e da beleza da estória.
São 160 páginas onde o leitor é conduzido pela vida pacata da ilha. Eleni se apaixona pelo jogo e esbarra na resistência - e nas fofocas - dos moradores da ilha em aceitar algo diferente. O súbito interesse de Eleni pelo xadrez é visto com desconfiança e estranheza, algo que abala seu casamento, levanta dúvidas sobre sua conduta e hábitos. O final, bem o final cabe ao leitor descobrir.
Não se trata de um clássico, mas sim de um livro delicioso, cativante e cuja estória encanta e convida o leitor a refletir. Há tantas situações cotidianas que são relevadas ou vistas com descaso, ou às quais atribuímos pouca importância e que revelam grandes avanços pessoais resultados de luta interior constante. A leveza da escrita e da narrativa transformam a leitura do livro em momentos de prazer, qual um período de férias na ilha grega de Naxos, onde se passa a narrativa.
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