Os dados são lançados. Um passo adiante é dado e assim a
casa das dezenas da idade é alterada no tabuleiro da vida. Quando se avança uma
casa, não se retrocede, não há mais volta. O tempo é inexorável e não permite
que o relógio seja reiniciado; o relógio corre, sempre, sem parar.
O constante passar do tempo, comemorado a cada ano, a cada
aniversário, é motivo de celebração. Vencemos mais um ano, somos presenteados
com um novo capítulo em branco, a ser preenchido com memórias, a ser escrito
com decisões, emoções, alegrias, percalços, solavancos, saltos, conquistas,
sorrisos, abraços, beijos, desejos. Comemorar mais um ano é celebrar a vida, a
sobrevivência nesta selva moderna de tantas armadilhas.
Alguns se lamentam com a idade que avança; alguns se
deprimem com a percepção de que somos finitos nesta passagem terrena e os
quarenta anos são um indicativo de que já percorremos uma boa parte da jornada.
Não sou exceção e também senti o peso dos anos, mas percebi que este período
lança a luz da perspectiva sobre o passado e o futuro. Parece que subimos numa
alta colina, sem conseguir avistar muito adiante, mas com plena visão do que
ficou. E o que ficou é bom, muito bom.
Houve lágrimas, houve tristeza, houve momentos de desespero
e indignação. Seria possível seguir adiante? Por que a vida se revela tão cruel
comigo? As perguntas são respondidas pelo tempo, pelo nascer do novo dia, pela
perseverança e determinação. As lágrimas servem para regar a vontade forte que
brota de um coração gigante.
Amigos foram feitos, trazidos pelo acaso; filhos são gerados
e nos dão um sentimento de legado, de permanência, de tradição de uma história
pessoal; pais são valorizados e apreciados; os bens são relativizados e parece
que ganham seu devido lugar na hierarquia das coisas; o transcendental dá
sinais mais fortes, provocando-nos, sugerindo-nos de que a vida é efêmera e é
preciso cuidar da alma.
A idade não é cruel, não rouba a beleza e a juventude. Pelo
contrário, deixa a mulher mais plenamente bela, mais profunda, mais decidida,
mais interessante. O brilho no olhar, a paixão pela vida, o sorriso sedutor,
adentram o tabuleiro com força total, mais enérgicos, cativantes e
encantadores. O invólucro cede ao conteúdo.
É possível passar horas admirando uma mulher em sua maturidade
discorrer sobre qualquer tema. A beleza é sutil, discreta, natural. O encanto é
delicado. A voz é despida da estridência tão própria da juventude e ganha um
caráter aveludado, firme, compreensivo. Mentiria se dissesse que uma jovem
mulher é mais sedutora ou interessante. A
idade e o tempo são generosos com quem sabe dar importância ao que realmente é
importante. Sábia é a natureza, sábia é a vida, sábio é este jogo que jogamos
no tabuleiro da vida.
2 comentários:
Parabéns pelo texto tão lúcido e tão verdadeiro! Impossível não se enxergar no tabuleiro...
Obrigado Polianna! Sempre bom encontrar comentários por aqui e elogios sinceros são ainda melhores! ;)
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