quinta-feira, 9 de maio de 2013

Reflexões soltas



Às vezes a inspiração me foge, as palavras desobedecem, comportam-se mal, não param quietas, algo semelhante a remontar um aparelho eletrônico depois de desmontado, quando as peças não se encaixam e sempre parece sobrar algum parafuso. Talvez fosse a ausência do silêncio; talvez a falta de recolhimento; talvez a falta de leitura; talvez o excesso de trabalho; talvez a sua falta.

Um texto e mais outro que não me agradaram, ficaram disformes, sem fluidez, pedra bruta não lapidada e que ao tentar lapidar, quebrava-se. As ideias confusas e a irritação aumentava. Inspiração parecia ter-me abandonado para sempre. Frustrei-me. Deixei mais um texto de lado, pela metade e segui o conselho de Ignácio Loyola Brandão: se a inspiração lhe escapa, procura-a na rua. Lancei-me no caminho a observar. Sem sucesso. Sem aviso, bastou-me avistar teu rosto que a inspiração pareceu jorrar água da mina mais pura.

Josué Montello tinha por hábito iniciar sua jornada como escritor com o dia ainda escuro. Sempre estranhei tal hábito, pois demorava um pouco a despertar e a organizar as ideias. Com os anos de vida percorridos, as horas frescas da manhã são as mais prolíferas. A mente limpa torna as ideias mais cristalinas e precisas, os resquícios dos sonhos da noite anterior dão pistas e sugestões para o dia que nasce, alimentam a inspiração, sugerem uma conduta ou aventura a algum personagem. Basta vencer a preguiça que as palavras se comportam igual às crianças com seus uniformes ainda limpos no início de uma jornada escolar.

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