A Venezuela
ingressou como membro pleno do Mercosul de forma açodada, num procedimento
quase sumário – só não foi mais rápido do que o impeachment de Fernando Lugo
por que o chanceler venezuelano depositou o documento formal de adesão no lugar
errado, algo como você ter uma reunião no Rio de Janeiro e pegar um voo para
Brasília. Enfim, em cerimônia realizada em Brasília, o falastrão Chávez jogou
para a plateia.
De forma
breve e sucinta, poderíamos dizer que o ingresso da Venezuela é bom para o
Mercosul? Tudo indica que do ponto de vista econômico a resposta é afirmativa.
O Mercosul ganha mais pujança econômica e se torna um bloco relevante em termos
de reservas petrolíferas.
Porém – e
aqui há muitos poréns -, é preciso
analisar qual será a postura da Venezuela daqui para frente e como tem sido a
postura da Venezuela no passado.
O Mercosul
tem uma disposição no seu Tratado que exige que o país membro seja democrático
e respeite a democracia. Bem, Chávez está mais próximo do conceito democrático
de Fidel Castro, de Mahmoud Ahmednejad e seus pares mais próximos Evo Morales,
Daniel Ortega e Rafael Correa.
O
impeachment de Fernando Lugo, procedimento previsto constitucionalmente na
Constituição paraguai, assemelhou-se ao impeachment de Fernando Collor. O
primeiro presidente eleito por voto popular no Brasil depois do fim do regime
militar era destituído pelo Congresso Nacional. O Brasil era um adolescente
democrático, suas instituições ainda titubeavam na sua forma de agir, mas
ninguém esbravejou, salvo Collor.
O governo
brasileiro tinha interesse no ingresso da Venezuela no bloco. O Senado
brasileiro demorou a referendar o novo membro. Faltava somente o Paraguai.
Então, o companheiro Lugo perde o cargo e os grandes gênios do PT, capitaneados
por Marco Aurélio Garcia e Celso Amorim, com o aval de Dilma, aproveitam a
deixa para usar um argumento fraco, mas eficaz. Suspendem o Paraguai do bloco
até a realização de novas eleições no ano que vem. Afirmam que houve violação
da cláusula democrática.
Com o
Paraguai suspenso, não há impedimento legal formal para o ingresso da
Venezuela. Fizeram com o Mercosul o que a FIFA quer fazer com a lei seca
durante a Copa: suspende a lei para agradar os outros e depois volta tudo como
dantes.
Houve
gritaria no Paraguai e vídeos do chanceler venezuelano confabulando com a
cúpula das Forças Armadas paraguaias, indicativos de uma tentativa de manter
Lugo no cargo por meio de um golpe militar. O vice-presidente uruguaio também protestou
na imprensa uruguaia. O Paraguai recorreu ao tribunal do Mercosul. Tudo em vão.
A pantomima orquestrada pela diplomacia brasileira teve aparente êxito.
Fala-se em
uma nova postura diplomática do Brasil fundado na solidariedade entre os povos,
sinal de que os interesses nacionais têm sido deixados em segundo plano por um
Itamaraty hesitante e com repetidas trapalhdas na seara das relações
exteriores. A política externa brasileira nunca esteve tão a reboque de
interesses partidários e pessoais como agora. O assunto deixou de ser política
de Estado e passou a ser mecanismo de condução de interesses pessoais e
partidários.
Quando a
Bolívia agiu contra a Petrobrás, o governo brasileiro calou-se; quando Cristina
Kirchner impôs controles alfandegários violadores do Tratado do Mercosul e com
claros prejuízos à indústria brasileira, o governo brasileiro calou-se; quando
a Venezuela restringiu o fluxo cambial acarretando inadimplemento nos
pagamentos para exportadores brasileiros, o governo brasileiro calou-se. Exemplos não faltam, falta é política
externa séria!
O Mercosul
não acabará. O Paraguai é um país fraco politicamente dentro do bloco e voltará
a gozar de seus direitos após as eleições presidenciais. Em outras palavras, o
Paraguai precisa do Mercosul. É uma questão de sobrevivência. Resta saber se o
tiro não vai sair pela culatra e se Chávez não vai querer ser a estrela única
do bloco ferindo os sentimentos de Dilma. Se ela ficar com ciúmes, poderá ter
que soltar um: “Porque no te callas!
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