Ultimamente, ministro no governo dura pouco. É um escândalo
atrás do outro. A herança vem do governo Lula com o mensalão que vitimou José
Dirceu e alguns assessores. No governo Dilma, em 11 meses, a alta rotatividade
no ministério é a regra geral. Palocci, Pedro Novais (Turismo), Alfredo
Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura), Nelson Jobim (Defesa) e
Orlando Silva (Esportes) deixaram o governo. Todos sob suspeita. Todos usaram o
mesmo script, seguiram os mesmos passos. Todos saíram ricos do governo.
O próximo deverá ser Carlos Lupi. A fila anda e depois,
outros virão.
Para ajudar aqueles “novatos” ou menos experientes no
ministério, como Ana Hollanda, resolvi elaborar um breve guia, um pequeno
manual de comportamento para ministros em crise.
Etapa 1. Finja de morto - tente fazer com que o assunto seja
esquecido, evite discursos e coletivas de imprensa. Qualquer declaração inicial
deve ser lacônica e negando os fatos. Tire férias ou licença, invente uma
doença, suma dos holofotes. Muitas vezes o tema cai no esquecimento público e o
ministro estará salvo. Se não funcionar, passe à etapa seguinte.
Etapa 2. Declare
sua indignação – reitere e repita a negativa dos fatos, do envolvimento, de
conhecimento das pessoas envolvidas. Use afirmações como “isto é complô da
imprensa”, “repilo veementemente as afirmações que querem denegrir minha imagem
pública”, “querem atacar minha família”, “estou firme como uma rocha”, "são as forças reacionárias que tentam desestabilizar o governo", “só saio
abatido a bala” e muitas outras que os ex-ministros nos brindaram. As
frases de indignação devem revelar apoio do chefe do executivo, do partido e de
que as pessoas próximas ao ministro estão sendo vitimadas inocentemente. O tom deve ser de exaltação, revelando indignação - ainda que tudo não passe de jogo de cena.
Etapa 3. Use o horário do partido na televisão e rádio – convoque os
correligionários a defender a capitania hereditária que é o ministério, afinal,
se cair o ministro, o partido pode perder o ministério e a teta gorda que alimenta
muitas bocas de filiados ao partido. O importante é unir o partido em torno da
fonte de renda que é o ministério. Louve o passado ilibado do partido na luta
contra a ditadura, mesmo que seja mentira.
Etapa 4. Prepare a saída honrosa – Se nada disso funcionar e os
fatos foram inquestionáveis e as contradições comprovadas, vide caso Carlos
Lupi, então, prepare uma saída honrosa. Recorra ao lapso de memória, utilize
toda sua habilidade de enrolar e inventar e tente criar uma versão crível do
escândalo. A saída honrosa deve ser rápida para evitar que o assunto fique
durante muito tempo nas páginas dos jornais e revistas.
Etapa 5. Demissão – confirmada a demissão, prepare uma carta de
demissão e saía atirando e acusando os outros – imprensa e oposição. O discurso
de despedida deve ser emocional, chore, agradeça aos amigos, faça-se de vítima
e incorpore o papel. Tente ganhar um Oscar de interpretação, pois isto pode
salvar sua carreira pública.
Etapa 6 – Deixe o tempo passar. O tempo será a redenção.
Afinal, com o dinheiro arrecadado de ONGs e convênios, nada como tirar umas
férias e gozar do fruto do “trabalho” no ministério. O brasileiro tem memória
curta e logo será possível voltar à vida pública. O esquecimento o transformará
em injustiçado e serão realizadas sessões de desagravo, como no caso do Delúbio
Soares, ex-tesoureiro do PT, coitadinho. Ou como no caso de José Genoíno, um
deputado tão honesto. Mais cedo ou mais tarde, eles sempre voltam.
Em tempo: O ministro Carlos Lupi está na Etapa 4, reparem só.
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