quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A polêmica meia-entrada


A meia-entrada foi concebida como um instrumento de acesso à cultura, permitindo que estudantes pagassem apenas metade do valor dos ingressos de espetáculos teatrais, musicais, mostras e demais eventos. Como muitas coisas neste país, algum espertalhão resolveu deturpar a boa ideia e aplicou a mentalidade cartorial e nefasta que ainda vigora nos ambientes estudantis brasileiros.

Algumas entidades estudantis avocaram para si a exclusividade de outorgar o título de estudante a quem lhe pagasse uma taxa para receber uma carteirinha, e assim poderia pagar meia-entrada.

Esta ideia foi ampliada para os idosos, para os alunos cursos de pós-graduação, para alunos de curso técnico, professores de todos os níveis, deficientes e por aí vai. Sou da opinião de que alguns fazem mais jus ao benefício do que outros, mas é fato que a meia-entrada se transformou em instrumento de abuso e aproveitamento indevido. É a famosa regra do “levar vantagem em tudo”, só falta o Gérson e o cigarro Continental (para aqueles que ainda lembram).

Nunca compactuei com esta excrescência e esta deturpação. Quando era estudante universitário, só poderia pagar meia se tivesse a carteirinha da UNE. Por questões ideológicas, preferi pagar inteira a dar um centavo àqueles sujeitos da UNE, muitos deles hoje em cargos públicos.

O fato de tratar do assunto em nada se relaciona com a discussão acerca da meia-entrada para jogos da Copa do Mundo.  Acho um absurdo a imposição da FIFA e não questiono a meia-entrada por causa da FIFA; questiono a meia-entrada como um conceito que foi aplicado de forma exagerada e que, portanto, prejudica a produção cultural e artística brasileira. A lei que deveria beneficiar a classe artística, aumentando o número de pessoas com acesso a estes espetáculos, hoje reduz o faturamento das produções que almejava incrementar. O tiro saiu pela culatra porque deturparam a finalidade da lei.

Consumidores empunhando o Código de Defesa do Consumidor revoltam-se contra quotas impostas por produtores. Órgãos de defesa do consumidor impõem exigências aos produtores e empresários artísticos com fiscalização rigorosa. Multas são aplicadas e reclamações deságuam nos Procons espalhados pelo território brasileiro. Tudo isto acarreta o aumento dos preços dos ingressos e faz com que certos eventos reduzam os pontos de venda para verificar se o comprador de fato tem direito à meia-entrada.

Talvez o momento seja inoportuno, mas a classe artística poderia aproveitar a polêmica causada pela imposição da FIFA e rediscutir esta questão da meia-entrada.

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