A luz
azulada no único apartamento com sinal de vida oscila e desenha a silhueta de
um anônimo a compartilhar comigo a solitária insônia. Passa das duas da manhã e
o silêncio me faz companhia, inundando a madrugada e permeando meus
pensamentos. Penso em silêncio. Sobre o silêncio apoio-me, como se fosse um
barco a conduzir-me pelas águas calmas de um lago.
Aperto os
olhos tentando decifrar a silhueta no apartamento ao longe. Seria um homem ou
uma mulher? Jovem ou idoso? Não tenho êxito na missão e os pensamentos começam
a se enevoar com a avalanche do cansaço que me convida ao leito.
Um carro
interrompe a quietude com o ronco do motor. E tudo volta a ficar calmo. E
quieto. A madrugada está fria. Os pés descalços incomodam-me ao sentir o chão
gelado da sacada. As pálpebras fraquejam e iniciam o movimento descedente. Forço-as para
cima, ainda entretido com a luz azulada que exerce uma força hipnotizante sobre
mim. Teria o espectador morrido na cadeira? Ou adormecera com a televisão
ligada?
Minhas
perguntas são vãs. Que diferença faz? Para que servem estas conjecturas? A
resposta é muito clara: para nada, além de puro entretenimento enquanto o sono
não me dá o ar da graça. Chega de perder tempo com ilusões e curiosidades vãs.
Vou dormir. Boa noite!
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