A Prefeitura de São Paulo, capitaneada por Gilberto Kassab, decidiu que certos hábitos precisam ser impostos aos cidadãos da cidade e cabe à municipalidade educar de forma coercitiva uma parte dos cidadãos. Digo uma parte, porque todas as culpas sobre os males da cidade parecem recair sobre os motoristas de carros.
Tudo bem, confesso que sou um ponto fora da curva. Não buzino, dou passagem a carros, motos e pedestres, dou sinal ao mudar de faixa e procuro não me estressar durante o trânsito. Tento ser consciente e minha última multa foi por ter me atrasado 5 minutos após o início do rodízio e fui flagrado por uma câmera que fica a 100 metros do escritório e que não concede tolerância. Meu rodízio, por sinal, é de segunda-feira e chego ao escritório antes das 7 da manhã. Mas as máquinas não aceitam tolerância e o prefeito também não.
Primeiro, Kassab determinou à CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) que reduzisse a velocidade máxima nos principais corredores de avenidas em 10 km/h. Segundo o prefeito, a redução da velocidade reduziria o número de acidentes. Mas aparentemente apenas os carros reduziram a velocidade, as motos não e motociclistas continuam a morrer em quedas cinematográficas que são proporcionais à falta de bom senso que os guia. Os carros passaram então a ser multados, pois muitos não estavam acostumados com o novo limite de velocidade.
Agora vem a estória do pedestre e da faixa de segurança. A campanha foi tão agressiva que motoristas estão começando a ter pânico de faixa de segurança e de pedestre. Segundo a campanha da prefeitura, o pedestre deve ter preferência sempre. E se ele atravessar fora da faixa? A preferência é do pedestre. E se ele não respeitar a sinalização? A preferência é do pedestre. E se o pedestre atravessar com o sinal fechado? O motorista que se vire para dar preferência ao pedestre.
Não estou propondo uma caça aos pedestres, mas que haja equilíbrio e exigência de que o pedestre também respeite o motorista. Um pedestre que atravessa fora da faixa e surge do meio dos carros é um risco para o pedestre e para os motoristas. Se houver um acidente, a culpa será do pedestre. E este é o ponto: dos atropelamentos em São Paulo, quantos ocorreram por culpa de pedestres e quantos por culpa de motoristas - e é preciso separar o tipo de motorista (carro, ônibus, moto e caminhão)?
Uma simples medida de proteção ao pedestre seria ajustar o tempo dos semáforos para permitir o cruzamento da via com mais calma. Outra medida seria garantira a manutenção dos semáforos para pedestres, como o da foto que ilustra este post.
Sinto que o motorista que paga impostos e circula conforme as leis de trânsito, que faz inspeção veicular - São Paulo é única cidade que impõe mais este imposto disfarçado - é cada vez mais destituído de seu direito de circular pela rua. É preciso dar espaço a faixas exclusivas de ônibus e de motos, ter cuidado com os ciclistas e desviar de pedestres.
A boa e velha lição das aulas de estudos sociais no primário sobre cidadania e a importância da faixa de pedestre parecem ter sido olvidadas por adultos que sentem-se tomados do um novo poder outorgado pelo prefeito. Bom senso e uma boa campanha educacional - para motoristas e pedestres - seriam suficientes para iniciar o processo de mudança. Mudança de hábito não se faz com decreto, prefeito!
Um comentário:
Renato, eu compreendo completamente sua revolta. O grande problema é: se não der preferência para o pedestre, mesmo se ele estiver agindo errado, o risco de morte dele é absurdamente maior do que se não der preferência ao carro. A preferência para o sujeito é uma questão de vida ou morte.
Quanto a "É preciso dar espaço a faixas exclusivas de ônibus e de motos, ter cuidado com os ciclistas e desviar de pedestres", sim, claro que é preciso. Se assim não fosse, menos pessoas ainda conseguiriam se locomover (faixas de ônibus) e mais pessoas ficariam possivelmente feridas: motociclistas, ciclistas e pedestres.
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