quinta-feira, 7 de abril de 2011

Uma tragédia em Realengo

Alguns fatos são realmente curiosos. Vistos de forma individualizada permitem o conhecimento fracionado da realidade, mas quando unidos por um fio condutor, ampliam a visão mais ampla e humana desta mesma realidade. 

Tenha calma, leitor. Sei que este parágrafo inicial pode parecer filosófico e despido de sentido; peço-lhes um pouco de paciência.

Escrever é um ato de observação da realidade e de contar (ou traduzir), do ponto de vista do narrador, esta realidade, ainda que tal ponto de vista não seja imparcial. Tinha pensado num post para hoje inspirado numa frase extraída de um romance de Haruki Murakami. Ficará para outro dia. Os fatos tristes e trágicos que ocorreram no Rio de Janeiro nesta manhã, numa escola pública no bairro de Realengo, levaram-me  a mudar de rumo.

Olhem os três últimos posts publicados neste blog: Poucas linhas, Sempre há uma razão para viver e Lady Macbeth na versão russa. Algum fio condutor? Diria que os três celebram a vida e a fraternidade, a dignidade humana e a sua impotência diante de fatos alheios à nossa vontade, como a doença e a morte.

O homem que adentrou numa escola nesta manhã no Rio de Janeiro era uma pessoa que perdeu o senso de dignidade humana, o senso de respeito pela vida, o senso de nossa pequenez diante do divino.

O vídeo Sempre há uma razão para viver celebra a humanidade e a dignidade do ser humano, não importando a deficiência ou a fraqueza diante da doença. Poucas linhas é uma prece em forma poética, um incentivo a ser paciente e enfrentar a dor (que pode ser física ou moral) com altivez e alegria, com oração e carinho de quem está do nosso lado.

Por fim, Nikolai Leskov revela a transformação de um ser humano em animal irracional, assassino frio e despido de qualquer sentimento. Teria acontecido isto com o homem que adentrou a escola hoje e assassinou de forma bárbara 10 crianças? Ou seria o homem um psicopata esquecido pela sociedade e por aqueles que conviviam com ele?

Não sei a resposta. Sei que curiosamente estes últimos três posts se entrelaçam e celebram a vida. Uma vida que precisa ser respeitada e dignificada. E àqueles que partiram, as nossas orações, a nossa solidariedade e a nossa compaixão.


Um comentário:

Luciana Betenson disse...

Muito bem falado, Re. Está na hora de celebrar a vida. E também faço minahs orações pelas mães que ficaram. Adoro seus posts. Um beijo,
Lu