sexta-feira, 23 de maio de 2014

Reflexões sobre ser pai



Foi  numa noite recente  quando a observei falar com desenvoltura e segurança, os olhos traziam um brilho contagiante e as mãos gesticulavam com intensidade. Nunca fora tímida. Sempre extrovertida e atirada, muito falante, sorridente, revelando uma segurança tão própria dela, mas que disfarçava um medo interior que era afastado com um pedido para segurar minha mão ou um abraço longo.

Antes das competições de xadrez, não se sentava diante do tabuleiro antes de me pedir um beijo de boa sorte e algumas palavras de incentivo e confiança.  Nos momentos de dúvida, recorria a mim e o diálogo fluía leve e compreensivo, mesmo em temas complexos, mesmo quando era preciso dizer não – e foram vários “nãos” -, mesmo quando se tratava de algum tema mais espinhoso. Surpreendi-me no começo em como era possível conversar com ela com tanta facilidade. 

Era uma noite de sábado, percebi que a menina deixara para trás a infância e adentrara na adolescência. Iria fazer 13 anos em breve e reparei que naquela noite, seu jeito era diferente. Passamos por duas fases e sinto que uma nova fase da paternidade se inicia. Ser pai é um desafio e um constante aprendizado, um observar, um estar presente, um escutar constante, um gesto de afeto e carinho, um beijo noturno para embalar o sono e os sonhos, um ombro amigo quando a fragilidade infantil ainda se manifesta.  Ser pai é antecipar gostos e adivinhar o pensamento dos filhos, sorrir e abraçá-los quando o choro é inevitável, puxar para cima, dar o exemplo. A lista é infindável. Cansativa? Não, reconfortante e cheia de alegrias.

Mais um ano, mais um aniversário. Vejo-me como um trapezista a balançar no trapézio, no alto do picadeiro, segurando a moça, olhando-a nos olhos e preparando-me  para soltá-la para a vida, lançá-la em  piruetas no ar, confiante de que conseguirá atravessar o espaço e voar até o outro trapézio agarrando-o com firmeza e vontade.


Minha filha fez 13 anos. Com ela aprendi a ser pai e com ela aprendi que a paternidade (e a maternidade também) é um ato generoso de  que Deus que permite a nós mortais participar no processo de criação da vida.

Nenhum comentário: