Desassossego. Palavra adulta que não cabe na boca de uma
criança. Passamos a nos questionar e o desassossego nos faz companhia. É
própria do mundo adulto, das inquietações que afligem o ser pensante e que nos
foi apresentada pelo inigualável poeta lusitano. Retrata com precisão um estado
da alma, mais profundo e que não se percebe na superfície, num sorriso
disfarçado, numa lágrima escondida, num tom de voz falso.
Desassossego que vem com a aflição por pagar contas, com a
falta de trabalho, com o dia de amanhã, com a semana seguinte, com o chefe
neurótico, com a resposta que não chega, com o diagnóstico do tumor que se
espera, com o resultado do concurso, com o telefone que não toca, com o
silêncio que incomoda, com o pecado que macula e condena. Deixamo-nos levar e
esquecemos do hoje.
Desassossego que nos acompanha e se faz presente no mundo
moderno, na vida corrida, na hiperatividade, mas que nos enfrenta quando nos
deparamos com um espelho e então ele lança a pergunta incômoda, aquela que
tentamos fugir atulhando a mente com distrações e milhares de afazeres.
Desviamos da resposta que cutuca no fundo da consciência, empurramo-la para
depois e a vida segue, com o desassossego como companheiro. Sábio poeta que
soube enxergar tão bem a alma humana.
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