sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Crônica: Segredos

Sombras, por Ana Luiza


SEGREDOS


Os maiores segredos nunca são compartilhados, contados, anotados. Permanecem guardados a sete chaves no silêncio interior, sem que alguém os tenha visto ou percebido. São segredos confidenciados em diálogos solitários com o próprio eu, naqueles momentos do meio-sono ou na tranquilidade do banho ou numa caminhada bucólica sem companhia humana. Não há sequer um diário que os tenha acolhido em suas páginas; talvez o fiel cachorro seja um bom confidente, sempre paciente e solícito a ouvir. Melhor que as paredes que permanecem imóveis e tomadas de impáfia, indiferentes a qualquer emoção ou sem revelar compreensão.

Com o tempo, os segredos parecem aumentar. Guardo em segredo as tantas vezes que sonhei com você – como na noite passada. Não haveria razão para guardá-los, mas penso que te canso ou que pareço obcecado, quase um psicopata a lhe perseguir. Mas na verdade, quem me persegue é você. Não, estou sendo injusto. Nunca me sentiria perseguido por você e a cada vez que vens me visitar nos sonhos, acordo tomado de uma alegria inebriante, que guardo em segredo – apesar de já ter lhe contado isto.

Guardo em segredo as palavras ditas na solidão, o sorriso espontâneo que brota ao admirar uma foto tua, dialogando sozinho e tentando entender a complexidade da vida e dos sentimentos deste indomável e surpreendente órgão denominado coração.

Guardo em segredo as palavras escritas em algum caderno ou email – nunca enviado -, nalgum diário largado no fundo da gaveta, quando as palavras sufocam e transbordam, sendo impossível contê-las e domá-las.

Guardo em segredo minhas orações por ti, diárias, constantes, permanentes, rogando a Deus que te proteja, que te abençoe e te permita sempre sorrir.

Guardo cada segredo como uma moedinha, como uma criança que cuidadosamente deposita sua preciosa moeda no cofrinho, crente de que se transformará num baú do tesouro. 

No fim, os segredos perecem, são esquecidos, perdem a importância; no fim, os segredos apodrecem, nutrindo o solo fértil das lembranças e das memórias ricas de saudade.


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