Sombras, por Ana Luiza |
SEGREDOS
Os maiores segredos nunca são compartilhados, contados,
anotados. Permanecem guardados a sete chaves no silêncio interior, sem que
alguém os tenha visto ou percebido. São segredos confidenciados em diálogos
solitários com o próprio eu, naqueles momentos do meio-sono ou na tranquilidade
do banho ou numa caminhada bucólica sem companhia humana. Não há sequer um
diário que os tenha acolhido em suas páginas; talvez o fiel cachorro seja um
bom confidente, sempre paciente e solícito a ouvir. Melhor que as paredes que
permanecem imóveis e tomadas de impáfia, indiferentes a qualquer emoção ou sem
revelar compreensão.
Com o tempo, os segredos parecem aumentar. Guardo em segredo
as tantas vezes que sonhei com você – como na noite passada. Não haveria razão
para guardá-los, mas penso que te canso ou que pareço obcecado, quase um
psicopata a lhe perseguir. Mas na verdade, quem me persegue é você. Não, estou
sendo injusto. Nunca me sentiria perseguido por você e a cada vez que vens me
visitar nos sonhos, acordo tomado de uma alegria inebriante, que guardo em
segredo – apesar de já ter lhe contado isto.
Guardo em segredo as palavras ditas na solidão, o sorriso
espontâneo que brota ao admirar uma foto tua, dialogando sozinho e tentando
entender a complexidade da vida e dos sentimentos deste indomável e
surpreendente órgão denominado coração.
Guardo em segredo as palavras escritas em algum caderno ou email
– nunca enviado -, nalgum diário largado no fundo da gaveta, quando as palavras
sufocam e transbordam, sendo impossível contê-las e domá-las.
Guardo em segredo minhas orações por ti, diárias,
constantes, permanentes, rogando a Deus que te proteja, que te abençoe e te
permita sempre sorrir.
No fim, os segredos perecem, são esquecidos, perdem a
importância; no fim, os segredos apodrecem, nutrindo o solo fértil das
lembranças e das memórias ricas de saudade.
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