SÁBADO CHUVOSO
Acordou taciturna. A forte chuva que bombardeou a janela
durante toda a noite ainda persistia. A manhã de sábado era cinza, carrancuda,
pouco animadora. O excesso de vinho da noite anterior pesava-lhe e parecia
ampliar a sensação de solidão. Fez um café forte e longo. O silêncio matinal
era quebrado apenas pelas gotas a batucar na janela da cozinha. Tomou o
primeiro gole de café, ajeitou os cabelos e acendeu um cigarro. Sentou-se no
sofá e ficou a observar a fumaça do cigarro dando piruetas no ar, até se
dissolver por completo no evanescente ar fresco.
Pegou o celular. Checou o instagram, whatsapp, messenger,
facebook, twitter, email, torpedos e tudo o mais que o mundo virtual parecia
exigir como forma de comunicação. Aquilo tornara-se uma obsessão e era repetido
diariamente, várias vezes ao dia. Procurava algum sinal. Qualquer um. Nada. Nada hoje, nada ontem,
nada antes de ontem. E não haveria nada amanhã. Vivia de ilusão, da ilusão de
que esquecer não era uma alternativa. Lutava contra si e as memórias que
teimavam em não partir.
Ligou uma música qualquer em mais uma vã tentativa de esquecer.
Uma lágrima escorreu-lhe pelo rosto. Depois outra e mais outra. As lágrimas em
harmonia com a chuva, fazendo-lhe eco. Não queria esquecer, ainda que fosse só um sonho. Mas ele já havia esquecido.
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