segunda-feira, 10 de março de 2014

Conto: Sábado chuvoso




SÁBADO CHUVOSO

Acordou taciturna. A forte chuva que bombardeou a janela durante toda a noite ainda persistia. A manhã de sábado era cinza, carrancuda, pouco animadora. O excesso de vinho da noite anterior pesava-lhe e parecia ampliar a sensação de solidão. Fez um café forte e longo. O silêncio matinal era quebrado apenas pelas gotas a batucar na janela da cozinha. Tomou o primeiro gole de café, ajeitou os cabelos e acendeu um cigarro. Sentou-se no sofá e ficou a observar a fumaça do cigarro dando piruetas no ar, até se dissolver por completo no evanescente ar fresco.

Pegou o celular. Checou o instagram, whatsapp, messenger, facebook, twitter, email, torpedos e tudo o mais que o mundo virtual parecia exigir como forma de comunicação. Aquilo tornara-se uma obsessão e era repetido diariamente, várias vezes ao dia. Procurava algum sinal.  Qualquer um. Nada. Nada hoje, nada ontem, nada antes de ontem. E não haveria nada amanhã. Vivia de ilusão, da ilusão de que esquecer não era uma alternativa. Lutava contra si e as memórias que teimavam em não partir.


Ligou uma música qualquer em mais uma vã tentativa de esquecer. Uma lágrima escorreu-lhe pelo rosto. Depois outra e mais outra. As lágrimas em harmonia com a chuva, fazendo-lhe eco. Não queria esquecer, ainda que fosse só um sonho. Mas ele já havia esquecido.


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