Doía-me a cabeça, não tão pesada como numa das recorrentes crises de enxaqueca, mas dolorida o suficiente para me fazer desistir da labuta e fugir para casa no meio da tarde, trilhando um atalho numa viagem de volta de Santos. Passava das quatro horas, a casa vazia, silenciosa, quando repousei meu corpo estirado na cama. Fechei os olhos. A janela aberta permitia a invasão da claridade. O ruído vespertino ganhou minha atenção: o dialogar de sons era diferente!
Ao fundo, os periquitos piavam e faziam uma certa algazarra na cozinha. Na rua, poucos carros intercalavam um ronco de motor. Não havia barulho de televisão, rádio ou qualquer outro aparelho eletrônico. Um funcionário do condomínio varria a calçada e era possível ouvi-lo. O vento agitava algumas folhas das árvores na rua. De resto, silêncio completo. Uma inesperada surpresa para uma cidade como São Paulo.
Descobrir aqueles sons da tarde, algo tão inesperado e tão fora do usual, pois no meio da tarde estou geralmente no meu escritório, diante de uma tela de computador, ou na rua ou em alguma reunião. No meio da tarde não há tempo para uma pausa, para dedicar total atenção aos sons que a invadem. A mente aos poucos foi perdendo a consciência e conduzindo-me aos braços de Morfeu. O pensamento perambulou, como de costume, compartilhando os bons momentos, as descobertas, passeando por lugares distantes que o pensamento tem o poder de aproximar. E assim, mais sereno, menos dolorido, adormeci.
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