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segunda-feira, 1 de abril de 2024

Silêncio e ruídos na metrópole

 


Praça Vinicius de Moraes - @rbueloni


Se no dia de hoje no ano de 2019, alguém dissesse que no ano seguinte estaríamos todos trancafiados em casa, isolados, temerosos de andar na rua e de qualquer contato social, teria sido rotulado como uma bela pegadinha do dia da mentira.

 

O filósofo coreano Byung-Chul Han inicia o seu Sociedade do Cansaço (2014) afirmando que o desenvolvimento tecnológico afastara o risco de uma pandemia, pois havíamos dominado a fabricação de remédios capazes de evitar o alastramento de doenças em escala global. Ledo engano.

 

Em 20 de março de 2020, iniciamos uma quarentena no Brasil e o mundo ficou paralisado por causa da Covid-19. Uma pandemia que interrompeu o comércio internacional, as viagens, esvaziou escritórios e obrigou-nos a ficar em casa, isolados em nossas celas e o silêncio tomou conta das cidades. Alguns achavam que era o apocalipse, outros ficaram indiferentes e riam da “gripezinha”. Muitos morreram. Outros tiveram sequelas. Os serviços de saúde ficaram sobrecarregados até que se encontrou uma vacina e um possível protocolo de tratamento.

 

O que mais me marcou naqueles dias de isolamento foi o silêncio. A forma como a sonoridade da cidade mudou de forma radical.

 

Outro dia, caminhando na Praça Vinicius de Moraes num sábado pela manhã, ouvi o canto de algumas cigarras. Uma memória afetiva da infância no sítio me transportou de volta para os anos 1980. Grilos, latidos de cachorros, sapos coaxando, o relincho de um cavalo, um galo a cantar. Sons do interior, trilha sonora de roça, mas que tanto acalma o íntimo. Um convite para desacelerar e apenas ouvir os ruídos deitado numa rede ou sentado no gramado.

 

Tenho para mim que as pessoas não se atentam muito para os sons, para os ruídos da cidade grande. São Paulo é barulhenta, mas aqui no escritório, desfrutamos de um silêncio quase monástico em alguns dias quando o telefone dá uma trégua e passamos o dia trabalhando em silêncio. Sim, hoje em dia, pode-se dizer que o trabalho do advogado é silencioso. O silêncio que é interrompido apenas pelo dedilhar das teclas no computador. Até meu celular fica sempre em modo silencioso. Aprecio o silêncio e deixo-me levar. O silêncio inspira, acalma, convida-me a conversar com Deus. O silêncio é a porta de entrada para a vida interior, para os recantos da alma.

 

Não tenho saudades da pandemia e nem do isolamento, mas a pandemia deixou como fruto positivo a redescoberta do silêncio. Talvez não a redescoberta, mas o contraste entre o silêncio e a agitada rotina paulistana. Um contraste que exige atenção para ser percebido, um contraste que pede sensibilidade, pois é sutil e passa despercebido pela grande maioria das pessoas que caminham neste imenso formigueiro que é a pauliceia.