"Mas não havia anjos apenas ao redor do pastor: estavam por toda a parte. Encontravam-se pousados na gruta, na montanha ao redor dela e esvoaçando pelo céu. Chegavam andando em grandes multidões pelo caminho, e ao passar paravam para ver o Menino. Reinavam entre eles um júbilo e uma alegria indescritíveis, cânticos e brincadeiras, e tudo isso pôde ele ver na noite escura, na qual antes nada vira. E também ele se alegrou tanto de que os seus olhos se tivessem aberto que caiu de joelhos e deu graças a Deus.
Mas, ao chegar a este ponto, a vovó suspirou e disse:
- E o que aquele pastor viu, nós também podemos vê-lo, pois os anjos revoam sob o céu em todas as noites de Natal, desde que tenhamos olhos para vê-los.
E a seguir pôs a mão sobre a minha cabeça e disse:
- Você não deve jamais esquecer disto, pois é tão verdadeiro como é verdade que eu vejo você e você me vê. O que importa não são luzes nem lâmpadas, o que importa não é o sol nem a lua; o que é necessário, isso sim, é que tenhamos olhos capazes de ver a Glória de Deus."
(Selma Lagerlöf. "A Noite Santa" in Contos de Natal. São Paulo : Ed. Quadrante, 2005, p. 17)
A romancista sueca Selma Lagerlöf tornou-se em 1909 a primeira mulher a ganhar o prêmio Nobel de Literatura.
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