quinta-feira, 28 de junho de 2012

Crônica: Aniversário


ANIVERSÁRIO



O aniversário é um dia como outro qualquer, cravado no calendário por acidente, fruto do acaso e sem qualquer explicação lógica ou científica. Simplesmente aconteceu naquele dia, daquele ano, sem que algo de excecpcional pudesse justificar o nascimento de uma pessoa. Um dia que não é diferente de ontem ou de hoje, nem será diferente de amanhã ou dos 365 dias ao longo do ano. A única diferença é que só ocorre uma vez no ano, que é uma convenção fixada para que possamos ter a impressão de que tudo começa de novo e tudo fica novo, quando na verdade um dia sucede ao outro e não há nada de novo.

Comemorar o aniversário deve ter sido a invenção do primeiro marketeiro do mundo que resolveu incentivar o comércio, obrigando o aniversariante a dar uma festa e aos convidados trazer presentes. Alguém inventou que tem - no sentido de obrigação -  que comemorar o aniversário, e desde então, a tradição sem sentido foi adotada por todos sem qualquer questionamento.

Aniversário é uma data inútil. Um dia onde o aniversariante pode fazer corpo mole no trabalho, pode ficar o dia todo no telefone agradecendo os votos de felicidades, mais outro tanto respondendo aos 500 amigos do Facebook que deixaram algum recado e o dia se vai num elogio à preguiça e de louvação ao ego.

Desde que uma rosa passou a ser somente uma rosa, o aniversário passou a ser, da mesma forma, um flatus vocis, um sopro vazio despido de conteúdo e sem corresponder à natureza de um ente. Explico-me. Lembram-se do livro de Umberto Eco, O Nome da Rosa, que virou filme com Sean Connery? Bem, o título é inspirado num célebre enunciado filosófico de Guilherme de Ockham, um dos precursores do nominalismo, que depois derivou no relativismo e outras correntes filosóficas.

Ockham afirmou que os entes são meros nomes, despidos de substância, ou seja, eu poderia chamar uma cadeira de bola que nada afetaria sua essência. O nomes são um sopro vazio, um flatus vocis na bela expressão latina, uma representação de algo que é impossível conhecer, mas que convencionamos chamar de cadeira para facilitar a vida.

Aniversário é exatamente isto: um nome vazio! Poderíamos chamá-lo por qualquer outro nome que seu significado não mudaria, nem deixaria de representar o que representa? Aniversário é algo vazio, despido de sentido, uma mera convenção social?

Não sei se convenci alguém com toda esta argumentação um tanto quanto pessimista, talvez até alguém já esteja revoltado ou surpreso com a acidez do texto e esteja me xingando. Pois bem, isto é apenas uma provocação. Penso exatamente da forma oposta. Eu gosto de aniversário e gosto quando as pessoas à minha volta aniversariam. Não se trata de uma data comum, um dia qualquer; trata-se de um dia especial para aquela pessoa que convive conosco, para o amigo ou amiga, para o filho, para os pais, enfim, para aquelas pessoas que nos são caras e queridas. Afinal, é neste dia que aquele ser humano veio ao mundo e tempos depois veio a fazer parte de nossa vida.

Se o destino estava traçado não sei, mas sei que compartilho da felicidade no aniversário dos amigos, daquelas pessoas que você sabe de cor a data e nunca esquece, não importa onde estejam. Pode estar de férias em Paris que um simples recado de "parabéns" chegará, mas que por trás da mensagem singela há um recado oculto: “lembrei-me de você no seu dia!”.

O aniversário é uma data para lembrarmos com especial carinho das pessoas que são importantes em nossas vidas.Hoje é fácil organizar as datas com milhares de aplicativos para todos os tipos de gadgets eletrônicos, mas os aniversários que realmente importam são aqueles que sabemos de cor. São poucos, pois são poucos os amigos verdadeiros. Talvez 3 ou 4, não mais do que isso (excluo os pais, filhos e outros familiares). São aqueles amigos que basta você ouvir a data que se lembra imediatamente dele - ou dela.

Aniversário é um dia para, acima de tudo, agradecer por aquela pessoa ter cruzado nosso caminho e lembrar o quanto é importante que permaneça em nossa vida.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

800 posts



Este é o post de número 800! Demorou pouco mais de cinco anos e meio para atingir este número. Ao longo deste período, há poesias, crônicas, contos, comentários (não ousaria chamá-los de críticas) sobre livros, pensamentos, opiniões, músicas, vídeos e até algumas tentativas de textos levemente humorísticos sobre o cotidiano. Um texto comemorativo e que deveria ser de aniversário, mas uma crônica de aniversário – atrasada – está quase prontinha, quase saindo do forno.

Ao lançar uma perspectiva sobre tudo que aqui foi publicado fico com uma sensação boa. Alguns textos ficaram muito bons (modéstia à parte), outros nem tanto. Alguns textos tinham um viés político crítico de forma proposital, que para alguns pode ter soado radical. Em síntese, tentei refletir no texto um pensamento crítico, uma opinião sobre fatos contemporâneos. Ouso dizer que este blog fez jus ao seu nome ao conseguir prever o futuro, sem misticismos, apenas com a lógica e uma análise sob um ângulo diferente da maioria dos jornais. Diria que o melhor exemplo deste acerto futurológico é o caso do Deputado Protógenes Queiroz.

Iniciei este blog com um propósito singelo de dar vazão à escrita, às ideias e não permitir que determinados fatos ficassem sem um comentário. O blog é uma forma de externar minha revolta com o que não concordo, mas também de elogiar o que merece ser elogiado, de incentivar as pessoas a lerem e desfrutarem da cultura, enfim, de compartilhar ideias.

Curioso que esta mistura de temas e formas de escrever fez com que este blog fosse até citado numa dissertação de mestrado de Cynthia Morgana Boos de Quadros, da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) para a obtenção do título de Mestre em Ciências da Linguagem, em maio de 2008. A citação foi de fato uma honra e uma surpresa, descoberta por acaso enquanto atualizava meu currículo Lattes. Para os interessados, a dissertação integral pode ser lida aqui.

Porém, sinceramente, o que é mais recompensador acerca de manter este blog não é uma citação acadêmica, mas a interação com quem lê. Sei que textos aqui escritos já provocaram sorrisos, gargalhadas, lágrimas, emoção, motivação e alegria. Ainda que não veja, tenho a consciência que despertar um sorriso sincero no leitor é a maior das recompensas. Emocionar e alegrar com a palavra é algo indescritível, diria que há um toque de divino quando as palavras tocam o leitor. O escritor é mero instrumento que traduz a beleza da vida – que por vezes não é bela. Tento deixar o pessimismo de lado neste canto de escritor e esforço-me por descobrir o que há de bom até no evento mais triste e trágico. A vida segue e ela se torna mais leve quando a jornada é feita com um sorriso.

Agradeço a todos que por aqui passam, a todos que leem o blog, a todos que criticam, incentivam e que simplesmente passam para dar uma olhadinha! Obrigado novamente!

terça-feira, 5 de junho de 2012

Microconto - XI



- Eu deixei de sonhar, de fazer projetos. – afirmou em tom categórico, a fala lenta e pausada, quase preguiçosa, despida de qualquer vivacidade, olhar opaco e distante mirando o infinito inatingível.

Ele começou a morrer quando abandonou seus sonhos e externou sua desistência.