sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Shimbalaiê



Para quem ainda não conhece Maria Gadú, a música que foi mencionada no post anterior.

SHIMBALAIÊ


Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar
Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar (2x)

Natureza deusa do viver
A beleza pura do nascer
Uma flor brilhando à luz do sol
Pescador entre o mar e o anzol

Pensamento tão livre quanto o céu
Imagino um barco de papel
Indo embora pra não mais voltar
Tendo como guia Iemanjá

Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar
Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar (2x)

Quanto tempo leva pra aprender
Que uma flor tem vida ao nascer
Essa flor brilhando à luz do sol
Pescador entre o mar e o anzol

Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar
Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar (2x)

Ser capitã desse mundo
Poder rodar sem fronteiras
Viver um ano em segundos
Não achar sonhos besteira
Me encantar com um livro, que fale sobre vaidade
Quando mentir for preciso, poder falar a verdade

Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar
Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar (4x)

O prazer da poesia




Formulou a pergunta com um ar de surpresa e desconfiança:

"Você costuma ler poesia?"

A resposta afirmativa não deixou o interlocutor sem jeito, mas sinceramente surpreso,  talvez por achar que a leitura de poesia esteja restrito aos alunos de escolas infantis e jovens adolescentes na fase da descoberta dos sentimentos, como aquelas mocinhas que suspiram diante de poemas açucarados.

Eu leio poesia e de vez em quando tento escrever poesia. Encontro na leitura de versos  de meus poetas favoritos um raro momento de reflexão, de contemplação, deixando de lado o trabalho e as preocupações banais e cotidianas da vida. Mergulho no verso e deixo a razão de lado por alguns instantes. Experiência que é igualmente prazerosa ao escrever.

A poesia é uma fonte de prazer. Ferreira Gullar, em recente entrevista, afirma que escrever poesia é uma aventura prazerosa. 

A poesia é a forma mais livre de escrita. O poeta enfileira as palavras traduzindo sua imagem abstrata em algo concreto e compreensível, mas deixando ao leitor a interpretação, que recorre a imagens pessoais criadas pela experiência pessoal.

Um lindo dia pode ser descrito de forma distinta e significar algo quase ilimitado, pois cada leitor o descreverá com base numa análise subjetiva.  Não tenho a pretensão de teorizar sobre o prazer que a poesia produz, pois é algo que se comprova na prática.

Corra as folhas de um livro de poesia, deixe que seus olhos sejam atraídos por palavras que lhe fisguem a atenção e invadam o emocional. Um momento basta para que aquelas palavras permitam ao leitor transcender o mundo real e meditar sobre o que o poeta descreve. O prazer intelectual é marcante. Algo semelhante ao que ocorre quando uma música se repete milhares de vezes em nossa cabeça e passamos a cantarolá-la o dia todo; ou quando uma pintura ou uma foto nos prendem a atenção de forma inexplicável.  Eis a beleza, eis a grandeza a nos arrebatar.

A música é a poesia cantada. Dou um exemplo com estes versos extraídos da música Shimbalaiê, da jovem Maria Gadú:

Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar
Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar

A palavra traduz o momento de um pôr do sol no horizonte tendo o mar como cenário. Não é preciso dizer nada mais. O leitor pode deixar o tempo passar contemplando o espetáculo natural; ou pode ser transportado pela imaginação ouvindo os versos e que remetem a uma prazerosa experiência passada.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Poesia: La Reina, de Pablo Neruda



LA REINA

Yo te he nombrado reina.
Hay más altas que tú, más altas.
Hay más puras que tú, más puras.
Hay más bellas que tú, hay más bellas.
Pero tú eres la reina.


Cuando vas por las calles
nadie te reconoce.
Nadie ve tu corona de cristal, nadie mira
la alfombra de oro rojo
que pisas donde pasas,
la alfombra que no existe.


Y cuando asomas
suenan todos los ríos
en mi cuerpo, sacuden
el cielo las campanas,
y un himno llena el mundo.


Sólo tú y yo,
sólo tú y yo, amor mío,
lo escuchamos.

(Los versos del capitán. Barcelona : Random House Mondadori, 2003, p. 16)

O amor é temática recorrente em Neruda. Seus Vinte Poemas de Amor (15 e 20) são uma prova magistral da sensibilidade com que união de palavras resulta em algo novo e indescritível. La Reina (A Rainha) é um exemplo de como palavras simples, repetidas em tom melódico, descrevem o olhar apaixonado que é lançado sobre sua amada.

Quando vais pelas ruas 
Ninguém te reconhece

mas o "eu" apaixonado te avista de longe e os sinos tocam, os rios borbulham e a música enche o mundo. Somente eu e você somos capazes de escutar isto tudo. O casal apaixonado, o homem apaixonado escolheu sua rainha.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Hélio Bicudo, a democracia e a liberdade



Desnecessário acrescentar qualquer comentário. A grandeza de espírito revela-se na atitude crítica de Hélio Bicudo. Ao invés de seguir cegamente um líder que atirou na lata do lixo a ideologia e seus princípios - se é que algum dia compreendeu esta expressão -, Hélio Bicudo saiu do PT por discordar do encampamento do Estado pela máquina partidária.

E termina sua fala com a afirmação: "Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos." Pense nisso na hora de votar.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

King of Anything, de Sara Bareilles



King of Anything é uma das músicas que compõem o novo álbum de Sara Bareilles. Kaleidoscope Heart foi lançado nos EUA no dia 7 de setembro de 2010 e está atualmente na 19a. posição na iTunes store americana. King of Anything é o primeiro single de trabalho.

Infelizmente o vídeo original só está disponível no Youtube, mas vale a pena ver e ouvir. O making of está disponível gratuitamente na iTunes store. Um interessante jogo de imagem, cor e fotografia.

Trilha sonora para o fim do dia. Ou para começar bem o dia.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O retorno do personagem

"O visitante comeu um biscoito de polvilho e de repente fez a pergunta, Alguma das minhas personangens teria por acaso voltado a me procurar pedindo mais tempo e mais espaço? Fiquei olhando para o prato de biscoitos, Ah! duas ou três já tinham voltado sem disfarces para exigir, Quero mais uma chance porque eu não disse e não fiz nem a metade do que devia fazer! Rosa Ambrósio, atriz decadente e alcoólatra, me apareceu ainda outra tarde, eu me sentei numa mesinha na calçada enquanto tomava sorvete e fiquei vendo aquela gente passar ali defronte. Ela aboletou-se ao meu lado e com sua voz pastosa criticou os passantes, jovens, crianças e velhos que iam desfilando na tarde calorente: Gente visível demais, gente tão solicitante, olha meu cabelo! olha meu sapato! olha o meu rabo! E pode acontecer que às vezes a gente não tem vontade de ver rabo nenhum, ela disse e me puxou pela manga, Então, não vai mais me chamar?...(...)"

(Lygia Fagundes Telles. A Conspiração de Nuvens. Rio de Janeiro : Rocco, 2007, p. 99)

Quando li a crônica intitulada O Visitante, cujo trecho foi transcrito acima, estranhei. Como poderia um personagem voltar e pedir mais tempo ao seu criador? Se há necessidade de mais tempo, então não estaria mal contada a estória? Não seria deficiente a narrativa? Seria o caso de reescrever o que foi escrito? 

A dúvida permaneceu e fiquei intrigado, curioso sobre o processo criativo e a forma como o escritor dá "vida" às suas personangens. A narrativa de Lygia Fagundes Telles marcou-me, ficou gravada num cantinho da memória como um daqueles textos de formação inesquecíveis, como se a esperar um momento preciso para se revelar com clareza e genialidade. Confesso que continuei cético sobre o aparente delírio da escritora, até que outro dia, fez-se a luz.

Escrevi uma crônica em junho deste ano cujo título é Viagem. Inicialmente, pensava em escrever um conto, algo mais longo e o que foi publicado seria a primeira parte. Ele não tinha nome, não tinha rosto, não tinha nada além de dor e sentimentos. 

O fato é que ele me chamou e pediu mais tempo, queria contar sua estória, queria falar-me, queria que eu viajasse com ele e o acompanhasse na viagem. Seria seu porta-voz, seu confidente, seu fiel escudeiro. E assim, a narrativa foi sendo chocada e ganhou corpo. Esta narrativa foi adubada por um desafio e aos poucos, Pedro, este o seu nome, vai me contando sua estória.

E a estória de Pedro vai preenchendo páginas e páginas que quiçá formarão um belo livro. Lygia Fagundes Telles tem razão quando nos ensina que as personagens têm vida própria.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Crônica: Se a noite falasse

SE A NOITE FALASSE

Se a noite falasse, se a noite contasse tudo o que ouve e tudo do que é testemunha, o mundo seria uma grande desordem. A noite assemelha-se à nossa consciência. Ouve pensamentos dos mais singelos, os mais puros e os mais abjetos.

Naqueles momentos em que a cabeça repousa sobre o travesseiro e fazemos, voluntária ou involuntariamente o exame de consciência, ou deixamos o devaneio tomar conta do estado de sonolência, levemente embriagado, a noite é nossa única testemunha. Alerta e onisciente, tudo escuta. 

Na noite, planejam-se os crimes mais horrendos, os assassinatos, os roubos, os latrocínios, a violência hedionda, os embriagdos que descontrolados agridem mulheres indefesas, que disparam armas de fogo, que empunham armas brancas e dilaceram a carne de um inimigo - ou de um amigo.

Na noite, o pobre apaixonado é tomado de coragem e bravura, pronto a declarar-se, a declamar o mais belo poema de amor sem titubear, gaguejar ou fugir do olhar da amada. O coração parece não conhecer o medo e a timidez, mas apenas a alegria de dar vazão às palavras que brotam do coração. 

Na noite, há silêncio, há calmaria. Todos dormem, menos eu. Observo atento o que meu interior quer me dizer. Escrevo e anoto. Para quando o sol rair, quando se fizer, reler o que pensado, e sóbrio, tentar encontrar a coragem perdida para abraçar o mundo e simplesmente falar. E fazer. E viver.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Marina Colasanti ganha Prêmio Jabuti 2010

A escritora Marina Colasanti foi escolhida como autora do melhor livro de poesia de 2010 e conquistou o Prêmio Jabuti. Seu livro Passageira em Trânsito foi mencionado neste blog e algumas poesias transcritas, apenas como aperitivo e provocação ao leitor. Sei bem que poesia não agrada a todos e que sua compreensão pode depender do momento, mas a poesia faz bem à alma.

Os resultados foram divulgados no dia 1o. de outubro pela Câmara Brasileira do Livro.


Romance
1º) 
Se eu Fechar os Olhos, Edney Silvestre (Record)
2º) 
Leite Derramado, Chico Buarque (Companhia das Letras)
3º) 
Os Espiões, Luis Fernando Veríssimo (Objetiva)
Contos e crônicas
1º) 
Eu Perguntei pro Velho se ele Queria Morrer (e Outras Histórias de Amor), José Rezende Jr. (7Letras)
2º) 
A Máquina de Revelar Destinos Não Cumpridos, Vário do Andaraí (Dimensão)
3º) 
Paulicéia Dilacerada, Mario Chamie (Funpec)
Poesia
1º) 
Passageira em Trânsito, Marina Colasanti (Record)
2º)
 Sangradas Escrituras, Reynaldo Jardim Silveira (Star Print)
3º) 
Lar, Armando Freitas Filho (Companhia das Letras)
Biografia
1º) 
Nem Vem que Não Tem: Vida e Veneno de Wilson Simonal, Ricardo Alexandre (Globo)
2º) 
Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão, Lira Neto (Companhia das Letras) e Euclides da Cunha: Uma Odisséia nos Trópicos, Frederic Armony (Ateliê Editorial)
3º) 
Bendito, Maldito: Uma Biografia de Plínio Marcos, Oswaldo Mendes (Leya)

Com esta seleta lista, não há razão para embarcar no feriado sem uma boa leitura.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Uma neófita na política

Deparei-me com este vídeo do debate dos candidatos a Governador do Distrito Federal. Em tempos de debates mornos e sem graça, este vale a pena ver.



Uma curiosidade: o Delegado Protógenes Queiroz (PC do B) só foi eleito graças ao votos obtidos por Tiririca na coligação. Eis a coerência e seriedade de Protógenes. No mesmo partido está Netinho de Paula, que ontem revelou todo seu bom humor e simpatia no CQC. Só não esmurrou o Rafinha Bastos porque ele é maior que o Netinho.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A voz das urnas

Sei que estou abusando da temática política neste blog, mas peço a paciência do leitor. Os temas literários retornarão em breve. Até que fui comedido nestes últimos dias, pois tinha pensado em escrever um longo texto prevendo o segundo turno. Tinha minhas razões que acabaram sendo expostas em conversas, mas não se transformaram em um texto organizado. Meus interlocutores sabem que acertei.

O eleitor jogou água no choppe e acabou com a festa da arrogância da líder nas pesquisas. O discurso de Dilma, após o encerramento da apuração, revela claramente que ela sentiu o golpe. Ela nunca havia disputado uma eleição e perder faz parte do jogo democrático. Visivelmente abatida, Dilma falou à imprensa mas não conseguiu esconder o desapontamento e o clima de velório. Veja o vídeo:



Aliás, Brasília é realmente uma cidade mística e estranha. Na mesma eleição, o Distrito Federal reuniu as condições climáticas perfeitas para a proliferação de fantoches políticos como nunca antes na história deste país. Weslian Roriz e Dilma Roussef são exemplos desta espécie nova espécie humana. Se Gepeto morasse em Brasília, não precisaria fazer um pedido à fada madrinha, bastaria contratar um bom marqueteiro e Pinóquio ganharia vida. E um bom cargo político.

Enquanto fiquei contente com a sapiência do eleitor paulista que recusou Netinho de Paula, não posso dizer o mesmo da eleição do Tiririca. Para não ficar tão isolado e envergonhado, o eleitor carioca elegeu Garotinho para a Câmara Federal. Agora teremos palhaço e plateia; ou vice-versa.

Conforme nossa previsão, Tirirca foi eleito. O Delegado Protógenes Queiroz também foi eleito. A Mulher Pera, apoiada por Eduardo Suplicy, teve a candidatura impugnada e ficou sem votos. Outros oportunistas que procuravam um emprego também não se elegeram, o que deixa um fio de esperança.

Algo que ficou muito claro com o mapa de votação para presidente foi a divisão do país. No Nordeste, 22% dos eleitores recebem o Bolsa-Família. O voto de cabresto ainda impera. Esta a razão para o sucesso de Dilma naquela região.

Por fim, eu daria qualquer coisa para estar no Palácio da Alvorada e ver a cara da Dilma e do Lula quando perceberam que haveria 2º. Turno. A “alegria” de Dilma contrastou com a “tristeza” de Marina Silva. Humildade faz bem e o eleitor deu um pouco de esperança para aqueles que acreditam no voto.